terça-feira, 16 de março de 2010

A Torre Eiffel do Curral Del Rey


Dentro de cada grande metrópole do planeta, ambientes de bem comum apresentam facetas distintas de seu funcionamento a moradores e transeuntes. E nos chamados hiper-centros, as décadas passam e espaços que eram ruínas hoje são valorizados. Assim como projetos de locais luxuosos acabam em favela. Será?

Há locais de Belo Horizonte que foram criados para cumprir uma função meramente funcional e hoje são consagrados com a população local, além de estrela do turismo – como o prédio do Mercado Central, em frente ao Minascentro. E existem também pontos da cidade que foram criados para servir como espelho do desenvolvimento mineiro e que, porém, receberam da população uma imagem oposta àquela almejada quando foram concebidos – como o Edifício Juscelino Kubitschek, na Praça Raul Soares.

Perceber a importância do JK (ou Condomínio Governador Juscelino Kubitschek – CGJK, seu nome original, quase nunca utilizado) vai além de podermos ver seu relógio marcando as horas de qualquer ponto da cidade. Sim, mesmo tendo sido concebido em 1950, ainda é o prédio mais alto da capital mineira, com seus trinta e seis andares (e é o quarto maior do Brasil).



O prédio do CGJK foi projetado em tempos de pujança imobiliária, poucos anos antes da construção de Brasília. E só terminou sua construção para ser habitado durante o crescente galope da inflação gerada para pagar os gastos do governo brasileiro na construção da Capital Federal – por muita sorte, não restam apenas ruínas.

A administração do prédio é um caso aparte na desastrada confusão política no entorno da Praça Raul Soares, com direito a apoio da religião liderada por Edir Macedo (proprietária da antiga casa de shows Olympia, originalmente parte do conjunto e hoje totalmente descaracterizada) na campanha anti-tombamento do prédio. Um bloco de 24 e outro de 36 andares com 5.000 moradores em diversos tipos de apartamentos garante à administração do prédio uma receita superior a centenas de cidades interioranas mineiras.

Com o passar das décadas, este tipo de empreendimento monolítico ficou obsoleto em todo mundo. As construções feitas desde então até os dias atuais são menos gananciosas, os prédios agora primam por um tamanho no máximo, médio. A demora de 18 anos entre a pedra fundamental e a chegada do primeiro morador no CGJK foi determinante para causar uma imagem desgastada neste prédio concebido por Oscar Niemeyer – que nega a obra, pois fez Brasília, que nunca lhe deu dor de cabeça.

Texto feito para a revista Sopa Magazine nº3 - leia e veja o ensaio fotográfico:


Referências externas:

- CGJK - Condomínio de Luxo ou Favela Vertical? - trabalho com texto e vídeos feito durante o curso de Arte e Contemporaneidade da Escola Guignard - UEMG por Isadora Fonseca, João Perdigão e Ulisses Moisés - orientados por José Márcio Barros na matéria Subjetividade no Espaço Urbano.

- Vídeo (vinheta) de anti-propaganda infográfica comemorando os 60 anos de construção do CGJK para a Escola de Design da UEMG por Bia Braz, Matheus Barreto e Paulo Barcelos - orientados por Leonardo Dutra e Cris Nery:



Um comentário:

Meu Mundo Emoldurado disse...

Adorei o blog e a originalidade... Magnífica a nova denominação de São Domingos do Prata (Saint Dominique D'Argent)... Superbe! J'ai aimé tout ça...